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Publicado em: 24/04/2025

10 anos da Fisioterapia Cardiovascular como especialidade reconhecida: avanços, desafios e perspectivas

Em 25 de abril de 2025, a Fisioterapia Cardiovascular completa uma década de reconhecimento oficial como especialidade profissional, conforme estabelecido pela Resolução Coffito nº 454/2015. A criação de uma especialidade específica para o cuidado cardiovascular representou um marco importante para a atuação clínica e científica da Fisioterapia brasileira, especialmente diante do cenário epidemiológico em que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no país e no mundo.

O CREFITO-3 conta com a atuação de uma Câmara Técnica de Fisioterapia Cardiovascular, que funciona como instância consultiva e propositiva dessa área de especialização para os gestores do CREFITO-3. Coordenada pela Dra. Isis Begot Krainer, composta pelos membros Dra. Renata Trimer, Dra. Patrícia Forestieri e Dra. Maria Carolina Basso Sacilotto, a Câmara Técnica de Fisioterapia Cardiovascular do CREFITO-3 forneceu todas as informações que constam desta matéria.

Reabilitação e muito mais

A área de atuação da Fisioterapia Cardiovascular abrange todos os níveis de atenção à saúde — promoção, prevenção, proteção, intervenção terapêutica, reabilitação e educação — em ambientes hospitalares, ambulatoriais e domiciliares. A assistência especializada tem como foco a reabilitação cardiovascular (RCV), com o objetivo de melhorar a capacidade funcional, reduzir riscos de reinternações, promover a educação em saúde, prevenir novos eventos cardíacos e reduzir a mortalidade. Também é fundamental para o controle de fatores de risco como hipertensão (HAS), diabetes, obesidade, dislipidemia, tabagismo e sedentarismo, além de acelerar a recuperação no perioperatório de cirurgias cardíacas.

Pacientes com diagnósticos diversos

O público atendido pela especialidade é bastante diverso, incluindo pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), arritmias, doenças cardíacas congênitas, submetidos a procedimentos cirúrgicos cardiovasculares, e pessoas com múltiplos fatores de risco. Além disso, a atuação se estende a atletas, nos contextos de prevenção e melhora do desempenho cardiovascular por meio de avaliações funcionais e intervenções específicas.

Até 2015, a especialidade era conhecida como Fisioterapia Cardiopulmonar, unindo as áreas cardiovascular e respiratória. A desvinculação promovida pela Resolução Coffito nº 454/2015 foi estratégica: possibilitou o aprofundamento técnico, científico e clínico nas particularidades do sistema cardiovascular. Embora interligadas em diversas situações clínicas, a Fisioterapia Cardiovascular e a Fisioterapia Respiratória são especialidades com alvos fisiológicos e objetivos distintos — o que se reflete na formação acadêmica, nas práticas baseadas em evidências e na construção de protocolos específicos.

A especialidade permanece vinculada à Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e em Terapia Intensiva (ASSOBRAFIR). Isso se deve ao histórico de atuação integrada em ambientes como UTIs e centros de reabilitação. No entanto, observa-se um crescimento progressivo da atuação especializada e do interesse acadêmico na área cardiovascular, o que pode impulsionar, futuramente, a criação de uma entidade exclusiva para representá-la.

Uma especialidade, muitas possibilidades de pesquisa

No campo da pesquisa, a Fisioterapia Cardiovascular tem investido em diferentes frentes. Entre os principais eixos de pesquisa estão:

1. Reabilitação Cardiovascular Baseada em Exercício : A prática estruturada de exercícios físicos é um dos pilares da reabilitação cardiovascular (RCV). Pesquisas investigam a eficácia de diferentes tipos de exercício — aeróbico contínuo, resistido, combinado e HIIT (treinamento intervalado de alta intensidade) —, bem como sua intensidade, frequência e duração ideais. Há um foco crescente na personalização dos protocolos, com base nas condições clínicas e na resposta individual ao treinamento. Os estudos buscam mensurar ganhos em VO₂máx (quantidade máxima de oxigênio que o corpo consome por minuto durante o exercício físico), redução da mortalidade e melhora na qualidade de vida.

2. Telessaúde e telemonitoramento: A digitalização da saúde tem impulsionado a implementação de programas de RCV remotos. Pesquisas atuais exploram o uso de plataformas digitais, inteligência artificial e sensores vestíveis para monitorar parâmetros fisiológicos à distância, promovendo segurança, eficácia e adesão em populações com barreiras geográficas ou socioeconômicas. A telessaúde também se mostra promissora para ampliar o acesso à reabilitação em regiões desassistidas.

3. Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC): A VFC tem se consolidado como um marcador prognóstico relevante, refletindo a modulação autonômica cardíaca. Estudos mostram que alterações na VFC se correlacionam com maior risco de eventos cardiovasculares e pior desfecho clínico em condições como IAM , IC e HAS. A análise da VFC tem sido utilizada tanto como ferramenta de avaliação quanto para monitorar a resposta a intervenções fisioterapêuticas, permitindo ajustes mais precisos nos protocolos de RCV.

4. Reabilitação Cardiovascular Precoce: A atuação fisioterapêutica durante a fase aguda da internação hospitalar — especialmente em pacientes acometidos por  IAM, IC descompensada e no perioperatório de  cirurgia cardíaca — tem sido amplamente estudada. Pesquisas buscam definir protocolos seguros e eficazes para essa fase crítica, com foco na preservação da capacidade funcional, prevenção de complicações associadas à imobilidade, aceleração da recuperação e redução do tempo de internação. Evidências apontam que a RCV precoce contribui significativamente para a melhora da qualidade de vida e redução das taxas de reinternação.

5. Ultrassonografia cinesiológica: O uso do ultrassom como ferramenta de avaliação funcional à beira do leito tem ganhado destaque. Estudos investigam sua aplicação na análise de estruturas musculoesqueléticas, mobilidade diafragmática, aeração pulmonar e sistêmicas, especialmente em pacientes críticos. A ultrassonografia permite uma conduta mais personalizada e baseada em dados objetivos, e fortalece o papel do fisioterapeuta na avaliação funcional integrada e na conduta baseada em evidências.