Entrevista com o fisioterapeuta Dr. Diego Galace
Dentre os temas das palestras, serão abordados a Classificação Brasileira de Diagnóstico Fisioterapêutico; Reabilitação Cardiovascular: vivências, pesquisas clínicas, translacionais e perspectivas; Registro Clínica e Consultório; O papel atual da Terapia Ocupacional e outros.
Entrevista com a fisioterapeuta Dra. Katherinne Ferro Moura Franco
Publicado em: 18/01/2023
Janeiro Roxo: campanha para sensibilização da hanseníase
Na cidade de São Paulo, a semana de 16 a 23 de janeiro foi escolhida como a semana “H” com o objetivo de divulgar os sinais e sintomas da doença para o maior número de pessoas possível.
Neste mês de janeiro será realizada mais uma edição da campanha anual de combate à Hanseníase, intitulada como “Janeiro Roxo”, para conscientizar a população sobre a doença. Desde 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro e a cor roxa para campanhas educativas em todo o país. A campanha tem por objetivo aumentar a detecção precoce de casos, investindo-se na sensibilização dos profissionais de saúde da rede de atenção básica para a suspeição do diagnóstico e na divulgação dos sinais e sintomas para a população, através dos meios de comunicação e distribuição de panfletos informativos em locais públicos onde há grande circulação de pessoas. No município de São Paulo, a campanha está sendo realizada nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), Unidades de Referência no tratamento de Hanseníase, CERs, feiras-livres, mercados, transporte públicos, entre outros. Serão realizadas cerca de 900 ações ao longo do mês de janeiro, além de ações de busca ativa em áreas silenciosas e dos reexames dos contatos das pessoas acometidas pela hanseníase em 2018. Para falar sobre a atuação da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional no tratamento e prevenção da Hanseníase, convidamos o fisioterapeuta do Programa Municipal de Controle da Hanseníase da Prefeitura de São Paulo, Dr. Fernando Antonio Charro, e a terapeuta ocupacional da Fundação Paulista Contra a Hanseníase (Centro de Dermatologia Sanitária), Dra. Geórgia Fernandes Cabral. Hanseníase A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa, causada pelo Micobacterium Leprae, de evolução lenta e crônica, transmitida por vias aéreas superiores após uma exposição prolongada aos indivíduos doentes e não tratados. Acomete fundamentalmente pele e nervos periféricos e sua característica principal são as manchas de pele com alteração de sensibilidade. A hanseníase tem tratamento e cura e os pacientes e seus contactantes são acompanhados por 5 anos. “A doença é um desafio para a Saúde Pública no Brasil. O diagnóstico precoce é difícil, pois o bacilo tem uma reprodução lenta e um período de incubação longo, sendo que os sinais podem ser sutis e de difícil identificação. Somos o segundo país que mais realiza o diagnóstico da doença no mundo, ficando atrás apenas da Índia”, explicou Dr. Fernando. No Brasil, foram registrados 18.318 casos novos e a taxa de detecção é de 8,58 por 100 mil habitantes. “Entre os casos novos, temos 11,2% com GII de incapacidades (incapacidades graves, geralmente permanentes)”, disse o fisioterapeuta. Como a hanseníase causa lesão nos nervos periféricos, os sintomas mais frequentes estão relacionados aos tipos das fibras nervosas acometidas. “Alterações nas fibras sensitivas podem gerar hipoestesias ou anestesias principalmente nas regiões plantar, palmar e córnea. Fibras nervosas motoras causam alterações de força muscular em face, membros superiores e inferiores. As fibras autonômicas causam diminuição ou perda da sudorese e lubrificação da pele, favorecendo o surgimento de fissuras e feridas”, disse Dr. Fernando. O fisioterapeuta explicou que se não tratada, a hanseníase pode trazer sequelas como úlceras plantares, reabsorções ósseas, atrofias musculares, pés e mãos caídos, garras móveis e rígidas, além de rigidez articular. Os olhos e o nariz também podem ser acometidos. As sequelas mais frequentes são diminuição da acuidade visual, diminuição da força das pálpebras, alteração e perda dos pelos da face e lesões e úlceras na mucosa nasal. Fisioterapia Quanto ao diagnóstico e o tratamento fisioterapêutico, Dr. Fernando disse que são realizados testes funcionais específicos e classificação das incapacidades em graus. “Serão avaliadas as funções oculares, dos membros inferiores e superiores. O monitoramento da função neural e as orientações das ações de autocuidado são realizados com frequência para que possamos identificar alterações e reações precocemente, evitando a instalação das incapacidades. Prescrição de órteses e próteses, realização das terapias de manutenção e ganho de mobilidade, força muscular, treino de AVDs, também fazem parte do tratamento fisioterapêutico, sendo imprescindíveis melhorar a qualidade de vida da pessoa acometida pela hanseníase.” O paciente encontra tratamento gratuito e totalmente integral para a hanseníase no Sistema Único de Saúde. “Especificamente, no município de São Paulo, a pessoa que notar algum sintoma da doença pode procurar a UBS mais próxima da sua residência. Na UBS, o médico avalia, e se suspeitar de hanseníase, encaminha esse indivíduo para uma das 28 unidades de referência do município, onde será tratado até a cura, e acompanhado por 5 anos. O tratamento fisioterapêutico é realizado nos CERs (Centro Especializado em Reabilitação), bem como a prescrição e retiradas das órteses e próteses.” Terapia Ocupacional De acordo com a terapeuta ocupacional Dra. Geórgia Fernandes Cabral, da Fundação Paulista Contra a Hanseníase (Centro de Dermatologia Sanitária), a hanseníase ainda é uma doença endêmica no país, ocupando o segundo lugar em número de casos novos no mundo. “Infelizmente muitos profissionais da saúde desconhecem os sinais e sintomas da hanseníase , daí a importância da divulgação da doença para profissionais e população na campanha do Janeiro Roxo, pois o diagnóstico precoce e a busca dos serviços de saúde ao sinal de qualquer sintoma podem evitar o progresso e danos neurais assim como a disseminação do bacilo.” Dra. Geórgia explicou que no início da doença é mais comum que o paciente apresente manchas na pele que podem ter coloração variada com alteração ou diminuição local de sensibilidade. Alguns sinais parestésicos, como o formigamento podem estar associados. Outras formas da doença podem ter como sinais a presença de nódulos ou simplesmente alterações da função neural. “Se o diagnóstico for tardio, poderemos verificar o comprometimento severo das funções neurais, presença de instalação de garras, atrofias, entre outros.” Quanto às dificuldades que a pessoa com hanseníase pode enfrentar ao realizar as atividades de vida diária e laborais, Dra. Geórgia citou que a alteração ou perda de sensibilidade em mãos e pés pode comprometer a rotina do paciente, exigindo revisão de condutas, adaptações e cuidados em casa e no trabalho para evitar danos à integridade física. “No caso de instalação de incapacidades mais graves, devido à hanseníase, cegueira, amputações e outros comprometimentos motores, como a motricidade fina e a marcha, serão necessários, em cada caso, avaliar e adequar as necessidades para promoção da autonomia (prescrição de órteses, adaptações, calçados especiais e outros.” Um dos focos do tratamento é a orientação em prática de autocuidado, visando a consciência dos riscos e as medidas e ações que devem ser realizadas para prevenção de incapacidades. “De acordo com a avaliação das funções neurais e possíveis comprometimentos, instrumentalizar, adaptar e adequar objetos para desempenho de atividades gerais, a fim de minimizar riscos, seja pelo comprometimento sensitivo ou motor; confeccionar órteses para ganho funcional em mãos e favorecer a inclusão e inserção profissional”, explicou a terapeuta ocupacional. Mais informações Na página da Prefeitura de São Paulo, é possível acessar uma área exclusiva sobre a Hanseníase. Nela, é possível encontrar informações para a população e para os profissionais de saúde, dados epidemiológicos, além das ações realizadas na Campanha. Hanseníase (Prefeitura de São Paulo) https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/vigilancia_em_saude/doencas_e_ agravos/hanseniase/index.php?p=301982 Campanha Janeiro Roxo https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/vigilancia_em_saude/doencas _e_agravos/hanseniase/index.php?p=269399 Dados epidemiológicos http://indicadoreshanseniase.aids.gov.br/